Está cada
dia mais caro ter a vida iluminada pela energia elétrica no Paraná. A conta de
energia elétrica se torna um tormento nos cálculos de final de mês dos
londrinenses. Entre os meses de junho a setembro, para deixar a situação ainda
pior, o frio é o grande vilão no bolso dos cidadãos. Contas de luz aumentam
significativamente. São os costumes que, geralmente, não fazem parte do
cotidiano veraneio dos moradores de Londrina. Os
banhos passam a ser mais quentes e mais demorados. O uso de eletrodomésticos
também cresce. São secadores, aquecedores, televisões que passam a ser mais
utilizadas pelo fato de as pessoas permanecerem mais em casa nessa época, assim
como as luzes que insistem em ficarem acessas. O resultado é o acréscimo no
valor do que deve ser pago pela energia elétrica.
O uso
inconsciente de equipamentos elétricos pode contribuir para valor alto da conta
no final do mês, de acordo com o engenheiro eletricista Victor Sbizera. “É quase que inevitável o
aumento na conta de luz do consumidor nessa época do ano. O que aconselhamos a
fazer é verificar se os aparelhos eletrodomésticos não estão velhos demais e
estão consumindo mais energia que o necessário. Isso acontece muito com
aquecedores e freezers”, afirma Victor. O
engenheiro diz que essa troca pode reduzir em mais de 30% o consumo de
eletricidade de uma residência. Os aparelhos mais indicados são os que contêm
no selo da Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) a
classificação “A”, que significa um baixo consumo de energia.
O depoimento de Isabela Rezende,
manicure de 47 anos, confirma que é possível diminuir a conta de luz dessa
forma, porém os gastos no inverno continuam acima da média anual. “Nós trocamos
aqui em casa o ar condicionado e o chuveiro, esse quando queimou, e a conta de
luz veio bem mais baixa que o que estávamos acostumados. Eu pagava R$550 e
passei a gastar por volta de R$250 com o novo ar condicionado”.
Como
reduzir os gastos
Há também outros conselhos
fornecidos por especialistas no assunto, a fim de manter o conforto do cidadão
e diminuir os gastos. Orienta-se que haja algumas trocas nos domicílios, como a
instalação de lâmpadas fluorescentes
que, apesar de custarem mais caro, gastam cerca de quarenta vezes menos energia
que as incandescentes. Sabendo que, segundo uma tabela de tarifas residenciais da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), em Londrina, o valor do kW/h é de R$ 0,4521,
qualquer redução é significativa para o bolso do consumidor.
O chuveiro é o campeão
de consumo residencial e representa de 25% a 35% da conta de luz de uma
família. Apesar de ser visto como o grande vilão dos gastos residenciais, o
chuveiro elétrico é
o produto mais eficiente em aproveitamento da energia elétrica, quando
utilizado corretamente. A dona de casa Marlene
Martins (53) conta que notou o aumento na conta de energia a cada inverno e
procurou saber como poderia, ainda que não equiparar à conta do verão, diminuir
o valor pago em relação às épocas mais quentes do ano. A solução que Marlene
adotou em sua casa foi a compra de um novo chuveiro elétrico para sua casa e a
sua correta instalação. "O
aparelho que compramos tem opções de temperaturas. Esse era um dos mais
indicados porque possibilita a regulagem do seu uso em função da época do ano,
sem a necessidade de gastar com uma potência maior para o inverno, quando se é
verão". A escolha da dona de casa influenciou diretamente no valor pago
pela conta da residência. Uma das explicações é pelo fato de Marlene poder
adequar a temperatura ao clima do dia. Antes, Marlene utilizava o chuveiro com
apenas duas opções de temperatura, com a chave
no modo “inverno”, o acréscimo no consumo é de cerca de 30% com relação ao modo
“verão”, o que influenciava na hora de pagar mais caro.
Para reduzir o preço da conta de energia é preciso educar-se.
Muitas vezes a comodidade e o desconhecimento levam-nos a pagar mais caro e a
desperdiçar recursos importantes. A mestranda em Biologia, Rafaela Macgnan,
acredita que a rotina de uma família influencia muito na redução de gastos e na
menor destruição dos recursos ambientais. “Para poder economizar mais é preciso
prestar atenção nos nossos hábitos diários. Ligar o ar-condicionado a qualquer
momento, deixar a luz acesa sem necessidade ou mesmo deixar o computador no
modo ‘stand-by’ por muito tempo são atitudes que acarretam nos valores
astronômicos que temos de pagar pelo uso de energia”, explicita Rafaela.
A estudante divide apartamento com uma amiga em Londrina e
notou que setembro foi um mês de aumento na conta de energia, porém espera que
em outubro, o preço seja diminuído. Setembro é cheio de mudanças, é fim de
estação, o inverno vai embora e chega a primavera que traz consigo, além das
flores, novas temperaturas. As mudanças climáticas são evidentes, e a
consequente alteração no valor a se pagar também. Ao passo que no inverno
economizamos com a conta de água, na primavera os cuidados devem ser
redobrados. Com a temperatura mais amena, é frequente buscarmos água gelada na
geladeira, assim como os ares-condicionados que passam a ter seu uso
intensificado. “Nesta
época do ano, é comum procurar a todo o momento por alimentos gelados. O
congelador é muito mais utilizado. A gente sabe que ficar abrindo e fechando
esses aparelhos eletrodomésticos a todo instante desperdiça energia e o valor
da conta sobe. Isso acontece muito aqui em casa. Mesmo que eu e a menina que
mora comigo tentamos nos controlar, nossos amigos ainda precisam ter essa
consciência”, afirma Rafaela.
Com
cuidados cotidianos simples e mudança de hábitos, é possível usar a eletricidade
sem desperdício. O intuito não é deixar de usufruir de toda a comodidade que
ela nos oferece, mas sim transformar nosso dia a dia para que utilizemos de
maneira eficiente a energia. Com o fim dos dias frios, mudar a chave do
chuveiro de posição e procurar tomar banhos mais rápidos, já são atitudes que
fazem diferença para o bolso do consumidor. Evitar a instalação de aparelhos de
ar-condicionado em locais expostos aos raios solares e manter as portas e
janelas fechadas ao usá-lo também são formas de economizar. Colocar cortinas
nas janelas onde o sol bate direto, e limpar periodicamente o filtro desses
aparelhos, regulando seu termostato, faz que a vida útil do aparelho aumente e
que, consequentemente, diminui o pagamento para a companhia de eletricidade do
município.
Maior desenvolvimento, maior gasto
Depois de muito ser dificultado a adquirir
eletrodomésticos, com a crise inflacionária no Brasil por volta de 1980, o
consumidor brasileiro pôde enfim ter seu poder de compra estimulado. Se por um
lado, antes, a crise dificultava o acesso ao crédito e desestimulava os
investimentos, por outro lado, não fazia a conta de luz disparar. Com a
implantação do Plano Real, em 1994, a economia voltou à estabilidade, com a
inflação controlada o consumo de bens e serviços cresceu gradativamente, o que
ocasionou, consequentemente, o aumento da demanda de energia elétrica.
O aumento do poder aquisitivo do brasileiro refletiu
em um crescimento expressivo do consumo de bem duráveis e não duráveis, bem
como proporcionou a acentuação do consumo de eletricidade. Estão entre os itens
que vêm batendo recordes de vendas, as televisões, os videogames, máquinas de
lavar, secadoras de roupa e notebooks, que são constantemente utilizados; o que
acontece é o forte impacto em suas respectivas conta de luz.
Segundo pesquisa feita pela Revista Istoé, foi em 2001
que o sistema elétrico entrou em colapso por não suportar o aumento da demanda
e o não aumento dos investimentos neste setor, desse fato é que surgiu o
“apagão”. Nesse momento foi que o governo começou a incentivar a
conscientização da sociedade, e pedir sua colaboração. Novos racionamentos de
energia elétrica foram evitados, mas a população ainda precisa ser mais
consciente. Sem planejamento adequado, além do custo da conta de luz que deve
disparar, o país corre riscos de precisar estabelecer outros racionamentos.
O fato é que o consumo
de energia elétrica nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cresce anualmente oito vezes mais que nos
países ditos desenvolvidos. Isso graças
também à modernização da agricultura e à automatização das indústrias. O conselho que a maioria de especialista
dá é para que os cidadãos evitem o uso indiscriminado de energia elétrica, para
que crises não ocorram novamente, já que é mais fácil reeducar um consumidor,
do que esperar a diminuição do uso de eletricidade por parte de grandes
empresas que visam o lucro cada vez mais astronômico.
Isabela Secco